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Da dependência da criança à sua independência

Tão interessante perceber que o que os pais mais querem que os seus filhos sejam na vida é que eles sejam independentes e autónomos, que façam as coisas por eles, que não dependam de ninguém, que não estejam atrasados no desenvolvimento, que não haja nada de errado quando parece que já deviam ter dado aquele passo ou ter dito aquela palavra. O foco está todo em forçar a independência. E “forçar” é a palavra-chave aqui, que advém das nossas crenças, da forma como nos sentimos perante a “dependência”, e que nos leva agir de uma forma, por vezes, até inconsciente na relação com as crianças. Se a relação tiver um começo que é a dependência e um fim que é que independência, um fim como sendo um objetivo, o nosso foco está, na maioria das vezes, nessa independência.

E na verdade, famílias, o foco deveria estar nas seguintes perguntas:

O que eu posso ser agora para o eu filho para que ele venha a ser independente de uma forma saudável?

O que é necessário para que ele sinta que tem os recursos todos para ser quem é?

Quando nos focamos apenas no quer ser independente, estamos com toda a nossa atenção no futuro e a forçar, sim a forçar o desenvolvimento da criança, fora do ritmo da criança. É, por exemplo, quando pegamos o bebé pelos braços para ele começar andar, quando ele ainda não demonstrou sinais para o fazer, é o que fazemos quando começamos a forçar as palavras, sem que a criança começe a fazer sons com a voz. Com isto, não significa que o melhor é não interagir com a criança. A diferença que eu quero reforçar aqui, é o quanto é importante estarmos presentes no agora. Como? Observando como estou a sentir-me, reconhecendo, observando a criança, sendo um canal facilitador para o seu desenvolvimento, como as margens de um rio que vai desaguar no oceano.

Maria Montessori tem uma frase que ajuda a perceber esta questão: “ajuda-me a crescer, mas deixa-me ser eu mesmo”. Montessori diz que a criança nasce com um mestre interior, uma vozinha que lhe diz o que ela precisa de fazer naquele momento. E essa vozinha, muitas das vezes, devido ao nosso ego, à falta de conhecimento, é lhe dito que não tem espaço para se expressar. É o exemplo, da criança que quer subir as escadas e os pais acham extremamente perigoso, quando apenas é necessário que o adulto esteja a suportar aquilo que a criança quer fazer naquele momento. O que seria se permitissemos que a voz da criança se expressasse mais?

Para existir independência da criança, é necessário que haja uma dependência que lhe transmita segurança, uma base de sustentação, um espaço único de expressão, de liberdade para ser quem ela já é. A dependência e a independência fazem parte do mesmo círculo, vivem muito bem uma com a outra, são necessárias à nossa existência saudável, quando nos ajudam a expandir e a crescer.

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