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Parentalidade Consciente: Estratégias para birras, regras e amor

Ser mãe ou pai é mais do que dar amor e colo, também é dar regras, educação e disciplina. A parentalidade é uma função a tempo inteiro e com muitos matizes. Conseguir manter a presença de espírito quando estamos perante birras ou comportamentos que se querem corrigir, são alguns dos desafios que os pais têm de aprender a superar com as suas Pulguinhas.

A Parentalidade Consciente é nome a memorizar, este é um recurso útil para aprender a gerir o dia a dia com os filhos para que tudo fique mais simples e harmonioso. Falámos com a Dra. Cátia Pereira Dias, Psicóloga Social, especialista em Parentalidade Consciente, para nos dar a conhecer o conceito e ajudar a encontrar estratégias que permitam controlar as nossas emoções, enquanto lidamos com as emoções deles.

 1. As birras são todas iguais?

A birra é um comportamento resultante de um estado emocional que ainda não foi atendido e é parte integrante do desenvolvimento cognitivo da criança, de forma a conhecer os limites, a ter uma rotina que lhe dê segurança, a auto-gerir as suas emoções e a lidar com “não’s” e frustrações. A forma como lidamos com a birra deriva das nossas crenças e do nosso estado emocional. Se tivesse que escolher onde atuar para lidar eficazmente numa birra seria na parte emocional, quer dos pais quer das crianças.

Se as birras são todas iguais? Não são. Elas são diferentes de criança para criança, de acordo com o seu temperamento, o seu grau de desenvolvimento e educação, o que faz com que as necessidades, a intensidade e a duração da birra seja diferente. Pense como seria a sua relação com o seu filho se visse as birras como naturais? Ou como um pedido de ajuda?

2. Há uma forma certa de lidar com as birras de bebés e crianças?

Existem sim muitas formas certas, que vão depender de cada criança e de cada família. O que acontece normalmente é quando vemos uma birra queremos extingui-la de imediato, usando um discurso e comportamentos que alimentam ainda mais a birra. Foi assim que fomos educados. Só que esta solução nem sempre promove o bem-estar da criança e dos pais. A pergunta que lhe faço é “Como se sente quando o seu filho está a fazer uma birra?”. Muitos pais respondem-me, vergonha, impotência, impaciência e não admitem o comportamento. Se deixarmos de lado esta vergonha e se deixarmos de lado a crença que estão a colocar em causa a nossa autoridade, como seria a nossa relação com os nossos filhos? Como seria lidar com birras?

3. O que é que define a parentalidade consciente?

A Parentalidade Consciente é uma escolha de vida que abrange todas as áreas e que nos faz vários convites ao longo da nossa jornada de mãe/pai. “O que é verdadeiramente importante para nós?” A resposta a esta e a outras perguntas abrem-nos infinitas possibilidades internas de como olharmos para uma criança e de vermos para além do seu comportamento. Uma criança, tal como um adulto quer ser amada incondicionalmente. Quando nos propomos a olhar para nós, aumentamos a responsabilidade de cuidar das nossas próprias necessidades, emoções, pensamentos e comportamentos. A partir daqui, abre-se uma nova atitude, muito mais pró-ativa, que quer conhecer cada vez mais quem é aquela criança que está ali à nossa frente, quais são os seus sonhos, as suas emoções e as suas necesssidades. Quanto mais mindful nos encontramos, mais facilmente percebermos que conseguimos detectar os pequenos sinais de fumo deixados pela birra e até evitar a birra. Dá trabalho, claro! E não é no momento que está acontecer, que nos vamos interrogar massivamente, até porque nesse momento é pedido conexão, presença, calma e tranquilidade.

4. Que estratégias podem os pais utilizar para poder aplicar as “leis” da parentalidade consciente?

Deixo-lhe aqui algumas dicas que requerem prática e que pode ajustar de acordo com a idade e maturidade da criança.

* Conexão com a criança através da sua empatia verbal e não-verbal, mantendo-se congruente entre o que diz, o que pensa e o que faz. Consegue conhecer qual a verdadeira necessidade: Será fome? Será sono? Está cansado? Está aborrecido? Está inseguro? Precisa de espaço?

* Criar segurança emocional e física: são muitos os autores, como a Dra. Laura Markham e Janet Lansbury que dizem: nós aceitamos, validamos e reconhecemos as emoções, como a raiva, a zanga, a frustração, mas não podemos aceitar determinados comportamentos, como o bater e morder. Então é necessário criar-se um espaço seguro e traçar uma linha que nos permita perceber quando temos que impedir a criança de se colocar em perigo a si ou aos outros. Assim, respeitamos a integridade da criança e fortalecemos a sua auto-estima.

*Respeito pelos limites: Com o avançar da idade, a criança vai pedir cada vez mais limites, vai dizer cada vez mais “não’s”. Ela só conhece os seus limites quando ultrapassa os limites dos outros. E aqui reside a maior dificuldade. Quais são os seus limites? Consegue-os expressar de forma clara e congruente? Precisa de um momento para si? Uma criança com muitas birras, é uma criança que pede limites muito claros! Comece por conhecer os seus limites. E respeite os limites e os não’s da criança, eles terão um papel importante na sua juventude e adolescência.

* Confiança. Lembre-se nestes momentos que exigem muito de si, qual é a sua verdadeira intenção como cuidador? Confia o suficiente em si para educar o seu filho? Confia que está a construir uma relação segura e harmoniosa? Confia que as birras estão de passagem e não vieram para ficar? Confia no seu filho?

* O que se deve evitar fazer?

Devemos assim evitar:

– Não reconhecer as emoções, desvalorizar, menosprezar, inferiorizar que o que a criança está a sentir;

– Usar palavras ou frases como “És mesmo birrenta”, “és uma menina mal-comportada”, “Não tens vergonha?”, “Já és demasiado crescida para fazer birras”

– Recorrer a estratégias como castigos, palmadas, time-out’s. Pode resolver o comportamento a curto-prazo, mas deixam marcas a médio e longo prazo na personalidade da criança, enfraquece a autoestima, cria vínculos inseguros, desligamento emocional, aversão ao toque físico, entre outros.

– Reagir à birra com gritos e responder como se fosse um ataque a nós próprios.

O mais importante de tudo na educação de uma criança é respeitá-la. É respeitar a sua integridade, a sua autenticidade e é ajudá-la a criar uma autoestima saudável para poder lidar com a vida de uma forma mais resiliente. Precisamos também de fazer connosco este papel, de cuidador das nossas necessidades, emoções, palavras e ações.

Queremos educar com medo ou com amor?

Entrevista publicada originalmente no site Pulguinhas

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