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Como é nos sentirmos em vínculo seguro?

Começo por trazer mais clareza sobre o que é um vínculo. Um vínculo é um laço
afetivo que criamos com outra pessoa. Ele começa por ser inicialmente com a mãe
através do cordão umbilical e pela simbiose vivida na gestação de alimentos
nutricionais e emocionais. Mais tarde, vai sendo estabelecido com outros cuidadores,
pai, irmão, avós, tios, educadoras. Esta ligação ela é feita de forma natural, por uma
mera questão de sobrevivência da nossa espécie. Isto porque como seres sociais que
somos, o nosso sistema nervoso veio para coabitar com o sistema nervoso de quem
está próximo de nós. É instintivo, natural, necessário e fulcral para cada um de nós.

Quanto ao vínculo seguro:
A meta da nossa humanidade deveria ser estabelecer e aumentar os vínculos seguros.
Como vínculo seguro entenda-se um vínculo em que existe uma regulação emocional saudável e previsível entre duas ou mais pessoas. Um vínculo em que podemos descansar, existir e coexistir tal e qual como somos. Ao ler isto parece uma utopia, só que não é. Existem aquelas pessoas que nos fazem sentir bem, em casa, onde podemos sair rejuvenescidos em cada contato estabelecido. Pois bem, são essas as pessoas que queremos manter por perto.
Alguém que nos traz um espaço seguro, um canal aberto de comunicação, de reciprocidade, de empatia, de não-julgamento. Alguém com as qualidades do coração bem disponíveis: compaixão, bondade, alegria apreciativa e serenidade.
Estar em vínculo seguro é poder partilhar, estar em presença e também permitir que o outro ocupe o seu próprio espaço. Neste tipo de vínculo, os espaços e os limites encontram-se muito bem definidos.
Importa também realçar que quando estamos em vínculo seguro, os desafios da vida
eles também existem e são vistos na perspetiva de desenvolvermos mais resiliência e flexibilidade.
Por fim, nutrir um vínculo para que ele seja mais seguro começa pela relação que estabelecemos connosco próprios, as palavras que usamos, a forma como acolhemos aquilo que não gostamos tanto em nós, a escolha segura das situações em que nos colocamos.

Quanto ao vínculo ansioso-ambivalente:
Como o nome indica ele implica um estado emocional de ansiedade, de inquietação, de agitação interna e é ambivalente, isto é, tem sentimentos opostos, dilemas e conflitos internos sobre como estar em relação.
Quando nascemos em contextos familiares em que as nossas necessidades físicas e emocionais não eram respondidas atempadamente ou de acordo com a sua natureza, por exemplo, ter fome e sermos colocados a dormir, ou termos sono e darem-nos comida, isto gerou em nós uma falta de sintonia e dilemas internos constantes de quais são as nossas necessidades e de como lhes dar resposta adequada.
Assim sendo, a melhor forma que encontramos perante esta confusão de sinais, foi dar resposta às supostas necessidades dos outros. Assim, este vínculo demonstra comportamentos de elevada empatia, atenção, escuta, compreensão, intuição perante o mundo do outro, esquecendo-se do seu próprio mundo interno. Quem permanece neste vínculo ansioso-ambivalente muitas vezes deixa de existir na relação e entra no lugar de salvador, de mãe do outro. Um dos possíveis caminhos de regressar a um vínculo seguro é de se incluir na relação como um ser individual diferenciado e autónomo, que tem desejos, emoções, necessidades, vontades próprias. E deixar ir a necessidade de se comparar, de se vitimizar, de agradar a todos, para abrir espaço à sua identidade única.

Quanto ao Vínculo Evitante:
“Estar em relação implica deixar de ter vida própria.”. Esta é uma das crenças centrais na vida de quem vive vínculos evitantes. O medo do compromisso, de perder a sua liberdade, de que façam de tudo para mudar quem ele é faz com que seja desafiante permanecer na relação. Nascemos com este tipo de vínculo quando sentimos que os
nossos cuidadores não estiveram presentes na nossa vida e com base nessa ausência criamos uma resposta de defesa pessoal através de uma forte auto imagem. Por isso, quando vemos alguém a recorrer a este tipo de vínculo, são pessoas aparentemente com um caracter bastante forte, donas do seu próprio nariz, muito comprometidas com a vida, exceto com as relações. Para um vínculo mais seguro, o evitante precisa de voltar a confiar no nosso instinto sobrevivente de que somos seres sociais que
crescemos dentro das relações. Enquanto o ansioso-ambivalente, o caminho é ao encontro de si mesmo, o evitante é ao encontro ao outro. Palavras como permanecer, ficar, sustentar, estar, presença, confiança, sintonia, existência, liberdade dentro da relação são preciosas para que este vínculo possa sentir que relações são um lugar
seguro.

Quanto ao Vínculo Desorganizado:
Imaginem lugares muito inseguros, repletos de gritos, de violência, de ausência por comportamentos aditivos e dependentes (ex.: álcool, drogas, relações…), um lugar em que existiam cuidadores que não sabiam que amor e medo não são a mesma coisa. Foi essa a ideia que ficou registada no que toca a estar em vínculo com o outro, que para sentir amor eu preciso de sentir medo em simultâneo. Dentro deste vínculo, é muito habitual encontrarmos alguns diagnósticos de doença mental fruto de episódios de
trauma severos no desenvolvimento da criança, alguns deles ainda durante o período gestacional.

Para desacoplar o amor do medo, este vínculo precisa em primeiro lugar, conhecer um mundo seguro e pessoas seguras, que lhe dão amor, carinho, afeto sem esperar nada em troca. É um caminho repleto de avanços e recuos, pois o sistema nervoso assim que afetado por novos estímulos de amor, pode trazer numa primeira instância medos associados. Requer que estejamos com muita gentileza, paciência e compaixão.

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